Num tempo em que a relação entre os sereshumanos e o mundo que habitam parece cadavez mais mediada por dispositivos de distanciamento da natureza, dos outros, de nós próprios,é como se, a pouco e pouco, fôssemos perdendo a consciência da interdependência entre nóse o mundo e a capacidade de nos deixarmosafetar, com afeição, por outros elementos quecompõem o mundo natural e cultural. A desafetação de que falamos não é um simples afastamento físico ou geográfico: trata-se de umaerosão sensível e ética, de um entorpecimentoprogressivo da nossa atenção ao mundo.Na educação de infância, este fenómenomanifesta-se com particular nitidez. As crianças, frequentemente abertas ao encontro, parecem por vezes empurradas para formas deestar que priorizam a normatividade, o desempenho ou a funcionalidade, em detrimento daescuta, da experiência sensível e partilhada,do tempo lento e do contacto com a matériae com outros seres terrestres. Esta tendênciaafasta-as do corpo-terra, dos ritmos sazonais,das relações multiespécie, mas também dasheranças culturais e afasta-as da produção dehistórias vividas que poderiam ajudar a estabelecer ligações afetivas com o mundo.O projeto OutGoing: crianças, naturezae cultura em relação nasceu precisamentecomo resposta a esta inquietação:Como podemos reaproximar as crianças —e os adultos que com elas vivem e trabalham— do mundo natural e cultural, não apenascomo objetos de conhecimento, mas comocompanhias de vida?Que práticas, modos de escuta e convíviopodem reabrir caminhos de ligação, atençãoe presença?Que papel pode a educação desempenharna reconstrução de uma sensibilidade partilhada?
				
		


